Para quem tem menos de 60 anos, o trecho do Tietê que corta a capital do Estado sempre foi sinônimo de águas escuras, poluídas e sem vidas. No entanto, até a década de 1940, ele era considerado a praia dos paulistanos. Hoje, o rio que passa por São Paulo parece não ser o mesmo quando chega ao Interior. Prova disso são as avaliações feitas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) sobre bacias hidrográficas. Elas mostram que na região de Bauru a qualidade do rio ainda é considerada boa, mas as condições para a vida aquática são péssimas. O grande vilão da situação é um velho problema conhecido das autoridades e entidades que atuam no meio ambiente: a falta de tratamento do esgoto.
A extensão que se apresenta poluída e estéril na maior cidade do País, na região ainda se apresenta bela, viva e como importante fator econômico. Em alguns municípios, o rio Tietê é utilizado para pesca, lazer, turismo, transporte e esporte. Em Barra Bonita, 30% do orçamento da cidade é proveniente do turismo que “gira em torno” do Tietê.
Segundo Nelson Menegon, gerente da divisão de águas e solos da Cetesb, ao longo de seus trechos o Tietê sofre transformações em função do uso do solo. Em sua nascente, em Salesópolis (426 quilômetros de Bauru), sua qualidade é boa. Quando atravessa a região metropolitana de São Paulo, tem condição péssima, ao longo do médio Tietê, ele passa por processo de recuperação da qualidade de suas águas e a situação é avaliada como ruim ou regular. Já quando chega ao reservatório de Barra Bonita, a qualidade é boa e é mantida até a Barragem Três Irmãos.
A falta de tratamento de esgoto é um dos responsáveis pela devastação do rio. Dados da Cetesb de 2008 apontam que 45% do esgoto gerado no Estado de São Paulo era tratado (2009 ainda não foi fechado). Em 2003, o índice era de 37%. “São 8% em cinco anos, aumento considerado significativo, pois indica que o esgoto gerado por quase 4 milhões habitantes passou a ser tratado, baseado na estimativa de 40 milhões de habitantes no Estado”, explica Menegon. “A justificativa para a melhor qualidade do rio no Interior está relacionada à sua vazão. Na região metropolitana, são cerca de 17 milhões de moradores para uma vazão pequena do Tietê, que está próximo à sua nascente. Quando chega à região, a vazão é elevada, além de receber os afluentes Sorocaba, Capivari e Piracicaba”, acrescenta.
Para o capitão da Marinha Mercante e diretor da ONG MAE Natureza, Hélio Palmesan, o Tietê precisa de ações conjuntas, além de investimentos. “O Tietê não será recuperado de imediato, temos exemplos pelo mundo como o rio Thames, em Londres, que está sendo despoluído desde o século 19, e o rio Sena, em Paris. O projeto do Tietê começou em 1992, está fluindo, mas ainda é muito cedo para fazermos mediações”, complementa. |
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