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                  | Mesmo diante de um cenário   trágico para a conservação do rio Tietê, mais de dois terços das Áreas de   Preservação Permanente (APPs) podem ser definidas como potencialmente   recuperáveis. Atualmente, são espaços ocupados, de maneira irregular, por   atividades agrícolas, edificações isoladas, pastagens, areia, solo exposto e o   chamado solo sujo. 
 Este último, caracterizado por trechos abandonados   por proprietários de terras para fins de preservação - mas que ainda não foram   recuperados, representa mais de um terço da área de matas ciliares que deveria   ter sido protegida, o equivalente a quase 5 mil hectares. Como o nível de   conflito a ser enfrentado para a retomada destes corredores é considerado   pequeno, estas áreas são tidas como prioritárias para receber projetos futuros   de reflorestamento.
 
 “Em relação aos campos sujos, são áreas que foram   isoladas e não têm nenhum uso. Ainda que ela tenha capacidade para se regenerar,   o ideal é que haja intervenção de organizações não-governamentais (ONGs) ou de   empresas para serem recuperadas”, aponta o coordenador de projetos do Instituto   Ambiental Vidágua, Clodoaldo Gazzetta.
 
 Depois dos campos sujos, segundo a   pesquisa do instituto, as pastagens são a principal forma de ocupação do solo   que deveria abrigar a mata ciliar do rio Tietê. Neste caso, os interesses   econômicos existentes podem provocar entraves para a implantação de projetos de   recuperação das margens do rio. Mas, conforme prevê a legislação atual, cedo ou   tarde terão de ser devolvidas à natureza.
 
 Presidente executivo da ONG MAE Natureza e ferrenho defensor do rio Tietê, Hélio Palmesan acredita que o   processo de recuperação das áreas desmatadas é certo e irreversível. Embora   ruralistas ainda contestem o tamanho das faixas de mata a serem preservadas -   como vem ocorrendo durante as discussões no Congresso Nacional sobre a reforma   do Código Florestal -, a tendência é que a pressão social e dos órgãos   fiscalizadores acelere a mudança deste posicionamento predatório.
 
 “Na   nossa região, grande parte dos canaviais já foi afastada em 100 metros das   margens, conforme prevê a lei. A gente não vê mais cana na beira do rio. Ranchos   e casas de veraneio também estão sendo demolidos. É um caminho sem volta”,   aponta. Além da força imposta pelas normas, Palmesan cita o aumento da   fiscalização por parte do Ministério Público, Polícia Ambiental e Instituto   Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a atuação   do Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais (DPRN) e dos comitês   de bacias como importantes agentes que colaboraram para reverter o processo de   degradação das margens do Tietê.
 
 Marketing ambiental
 
 No   entanto, outro fator fundamental vem de ações menos repressivas. Através do   apelo do marketing ambiental, muitos empresários descobriram que abraçar a   bandeira da defesa da natureza também pode concorrer para uma maior   lucratividade nos negócios.
 
 Exigente, até mesmo o mercado externo utiliza   a preservação ambiental como barreira não-tarifária à importação de produtos   brasileiros. É o que ocorre, por exemplo, com os produtores de gado, que   enfrentam dificuldades para comercializar carne bovina para alguns países por   não possuírem certificado de proteção de reservas legais.
 
 “Não se trata   de bondade, é uma necessidade de mercado. Seja para atender a cobrança dos   compradores internacionais, não correr risco de ser punido por órgãos   fiscalizadores ou dar à sua marca o status de empresa ambientalmente   responsável, a postura está mudando”, frisa Palmesan.
 
 Estabelecido mais   recentemente, o crédito de carbono também é uma forma de as indústrias lucrarem   se conseguirem diminuir suas emissões de gases do efeito estufa na atmosfera.   Por meio de acordos internacionais, se poluirem o ambiente abaixo da cota máxima   permitida, elas podem vender no mercado nacional ou internacional, a preços   convidativos, o excedente desta “permissão” de emissão de gases.
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