Os
Barcos Pedem Passagem
Em
visita a Cuiabá em 1838, o Conselheiro Pimenta Bueno esboçou
um mapa em que mostrava o melhor caminho - era um caminho terrestre -
para viajar de São Paulo até aquela capital. Contudo, assegurou
que mudaria de opinião "se visse praticar no leito e nas margens
do Tietê as obras necessárias para fazê-lo navegável:
porque, nesse caso além de se encurtarem as distâncias por
via da navegação do Paraná e de seus afluentes, seguiria
para ali, para a deserta fronteira do Império com a Republica do
Paraguai, a população que é urgente chamar-se para
lá".
Em vista da necessidade de modernizar a navegação pelo rio,
ainda naquele ano o Governo Imperial autorizaria a concessão de
uma carta de privilégio exclusivo para a firma Aguiar, Viúva
e Filhos Companhia, para a abertura de canais para a navegação
a vapor e o transporte de passageiros e gêneros. Foi prevista, inclusive,
a ligação do rio Paraíba ao Tietê e sua utilização
para a navegação. Esse primeiro esforço, no entanto,
malogrou.
Em 1861 foi a vez da Companhia Dois de Dezembro obter a autorização
para atuar com barcos a vapor no trecho entre São Paulo e Moji
das Cruzes, além de outros rios preliminares.
A navegação à vapor pelo Tietê só iria
começar efetivamente em 1873, quando a Companhia Fluvial Paulista
obteve o privilégio, por 30 anos , de estabelecer o tráfego
entre a cidade de Tietê e o Salto de Avanhandava, além da
navegação pelo rio Piracicaba até seu encontro com
o Tietê - serviços para os quais utilizava cinco vapores
e 24 lanchas, e que não funcionava em tempos de secas.
Nessa época, o transporte dos produtos cultivados na região
chegou a ser intenso, e o tráfego fluvial favoreceu várias
cidades da beira do rio. Esse foi o caso, por exemplo, de Porto Feliz,
que ligava seu Engenho Central diretamente às propriedades agrícolas,
por um lado, e à Estrada de Ferro Ituana, por outro. Entretanto,
a presença de corredeiras e cachoeiras dificultava a passagem do
vapor e as verbas concedidas pelas Assembléias Provinciais para
a desobstrução do trecho entre Porto Feliz e Salto de Itu
mostravam-se insuficientes em relação à dimensão
do problema.
Em 1886, a Companhia Ituana de Estrada de Ferro comprou a Companhia Fluvial
Paulista, obrigando-se a executar e a regularidade do tráfego e
a construir, no prazo de dois anos, cais com guindastes em vários
portos, para facilitar o movimento das mercadorias.
No entanto, pouco mais tarde, com o desenvolvimento primeiro da rede ferroviária
e depois da rodoviária, o interesse pela navegação
fluvial decaiu, passando o Tietê a atuar apenas como apoio aos demais
meios de transporte. Em alguns trechos, ele serviria ainda para o escoamento
da produção cafeeira do vale; mas, na verdade, precisaria
aguardar cerca de um século para estabelecer, em seu leito, uma
navegação regular e moderna. |