Anhuma,
Anhembi, Tietê
O
Tietê, nem sempre se chamou Tietê. Até as primeiras
décadas do Século XVIII ele era o Anhembi, nome de origem
indígena, registrado e explicado pela primeira vez pelo viajante
e Governador do Paraguai, D. Luis de Céspedes Xeria: "Ayembi
quer dizer rio de unas animais" - aves que causavam espanto ao europeu
com seu unicórnio frontal, os esporões das asas, os pés
desproporcionalmente grandes e gritos que, segundo o Padre Anchieta, fazia
pensar num burro zurrando.
Em Caminho e Fronteiras, Sérgio Buarque de Holanda nos confirma
que "Anhembi quer dizer rio das Anhumas ou das Anhimas", aves
desde o início do povoamento eram procuradas pelos caboclos, que
buscavam nelas o remédio ou preservativo para toda sorte de males.
"Especialmente do unicórnio, mas também dos esporões
e até dos ossos, em particular dos ossos da perna esquerda, faziam-se
amuletos e mezinhas contra ramos de ar, estupor, mau-olhado, envenenamento
e mordedura de animais.
Há os que viam em outras espécies a origem do nome. Para
Teodoro Sampaio, anhembi significaria perdiz, ave que existia em grande
quantidade nos campos de Piratininga. Para Afonso de Freitas, significaria
rio veado: viria de anham - correr -, e de angalma, espírito, gênio
-, recaindo a simbologia dos tupi-guaranis sobre o veado, dada a sua fama
da mais ágil e veloz da fauna brasileira.
Em 1748, o nome Tietê foi pela primeira vez registrado cartograficamente,
no Mapa D'Anville. Referia-se apenas ao trecho situado entre a nascente
do rio e o salto de Itu, mas acabou por prevalecer sobre o resto.
Ainda naquele século, o nome Tietê foi associado, por José
Gonçalves Fonseca, as aves conhecidas por tetés, semelhantes
aos pintassilgos, que eram muito comuns nas margens. Mais tarde, Teodoro
Sampaio levantou duas hipóteses: Tietê viria de tiê,
a voz onomatopaica de uma família de aves das quais fazem parte
os tié-piranga e o tié-juba; ou viria de junção
de ty - águas, líquido, vapor -, e ete - verdadeiro -, significando
rio bastante fundo, rio verdadeiro: tratava-se do primeiro curso d'água
considerável que o forasteiro encontrava ao penetrar no sertão.
Em 1929, Plínio Ayrosa, em parecer para Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo, contestaria essa hipótese,
afirmando que o nome Tietê não era indígena, mas dado
pelos portugueses, mesmo porque, nem pelo seu volume, nem pela comparação
com outros cursos d'água, os índios seriam levados a atribuir-lhe
o significado de rio grande.
Tietê, rio das anhumas, e também das perdizes dos veados,
dos tetés dos tiés: qualquer que seja a origem do nome,
todos nos remetem à fauna abundante que habitava suas margens. |