Memorial do Rio Tietê

Histórias e Lendas

Algumas das mais remotas manifestações do folclore paulista tomaram forma na área do antigo povoamento do Tietê. De lá vem histórias de mães d'água encantadas, que levantavam grandes ondas e atraíam os navegantes ao fundo do rio; de cobras gigantescas, como a sucuri que, mortas por um índio, tornou-se o Salto de Avanhandava; de almas penadas de sertanistas sumidos em redemoinhos ou mortos por doença, flechados por índios, estraçalhados por onças ou picados de urubu, que nas noites de bruma subiam e desciam o rio em embarcações misteriosas; de religiosos, como padre Anchieta, que teria sido resgatado seco e rezando sentado sobre uma pedra do fundo do rio, depois de ter afundado quando virou a canoa em que viajava.

Aos poucos, essas histórias foram se incorporando a sociedade que se expandia à beira rio, transformando-se em lendas e integrando-se às manifestações locais da cultura caipira em formação cultura essa, permeada de elementos mágicos e religiosos, de origem indígena, católicas e próprias, para a qual o mundo natural era povoado de assombrações, lobisomens, mulas-sem-cabeça, sacis e outras entidades.

Nessa cultura, conforme nos diz Octavio Ianni em Uma Cidade Antiga, as regras e benzeduras eram parte das práticas no sentido de afugentar os azares, curar as doenças, controlar a natureza e apaziguar as pessoas. Ainda hoje, entre as tradições locais ressaltam-se as de fundo religioso, como as festas juninas, que comemoram o início ou fim de um ciclo agrícola ou o padroeiro do lugar; e as festas do Divino, com o encontro de canoas no rio, tradição nascida da promessa feita por alguns habitantes da cidade de Tietê, ao Espírito Santo, a cuja interferência milagrosa creditaram o fim de um surto de malária qua ameaçava a vila de completo despovoamento.