Um
Rio Navegável
Depois
da experiência do TVA, no rio Tennessee, uma expressão se
consagrou no mundo inteiro nas abordagens das grandes barragens: o múltiplo
uso. Entre nós, ela se refere às várias finalidades
com que foram projetados os reservatórios, que incluem desde a
produção da energia elétrica até a navegação
fluvial, a regularização da vazão dos rios, a garantia
do suprimento de água, o lazer, a piscicultura e a recomposição
da flora e da fauna adequadas às novas condições.
Em relação especificamente à navegação
com a construção das barragens no chamado Sistema Tietê-Paraná
formaram-se imensos lagos, oferecendo calado a barcos de porte, e começaram
a tomar forma as obras realizadas para estabelecer a comunicação
entre os vários rios da região. Visava-se, com isso, estabelecer
um fluxo de transportes mais baratos do que o rodoviário e o ferroviário,
economizar os combustíveis derivados do petróleo, interligar
as regiões geo-econômicas do estado, relativando os centros
produtores distantes das áreas consumidoras, e, ainda, atingir
diversos municípios do Paraná, sul de Goiás, Mato
Grosso do Sul, parte do Triângulo Mineiro e, finalmente, os países
vizinhos do chamado Cone Sul do Continente.
No Tietê, os obstáculos foram vencidos através de
técnicas que permitiram o aprofundamento do leito fluvial, o balizamento
do rio com bóias, o derrocamento subaquático com explosivos
e, ainda, a superação de problemas como os desníveis,
através da construção de eclusas. Também foram
vencidos os obstáculos representados pela ponte metálica
de Barra Bonita, que foi dotada de vão central móvel e equipada
com motores elétricos para levantar seu piso, dando passagem aos
navios.
Com essas medidas, a navegação entre Conchas e o rio Paraná
já está praticamente toda aberta. Atualmente, seguindo pelo
canal Pereira Barreto, ela atinge o reservatório de Ilha Solteira,
no rio Paraná e, através deste, a barragem de São
Simão, no rio Paranaíba, em Goiás, e a barragem de
Água Vermelha, no rio Grande. Esse, chamado Tramo Norte do Sistema
Tietê-Paraná, corresponde a 1.080 quilômetros de navegação.
A navegação também se tornou possível entre
Conchas e a barragem Três Irmãos. Em meados de 1992, quando
se iniciar a operação das eclusas dessa barragem, a navegação
pelo Tramo Sul do Sistema Tietê-Paraná alcançara Jupiá.
Atualmente, entre Jupiá e Itaipú, há aproximadamente
700 quilômetros navegáveis em corrente livre.
O trecho do Tietê próximo à região metropolitana
sempre apresentou mais dificuldade à navegação. Para
melhorar suas condições de navegabilidade, já em
1912 foram feitas obras de escavação, retificação
e balisamento de canais; dez anos depois, as obras de drenagem continuaram
com a abertura de novos canais e a limpeza das margens, e ainda hoje são
realizadas obras de aprofundamento, drenagem e retificação.
A ligação da Grande São Paulo com o Médio
Tietê, contudo, é bastante complexa, devido ao desnível
de 260 metros entre a região metropolitana e a cidade de Itu, que
exigiria a construção de dezesseis eclusas para ser superado. |