Carta da Água 2015

Jornal Cidade de Bauru - 23 de Março 2015

 

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Sou água. Dependendo do ponto de vista, sou a substância mais comum, mais abundante e mais simples existente na natureza. Por essa singularidade, abreviaram meu nome: “H2O”. Dizem que sou importante, que foi de mim e por mim que surgiu a vida na terra. Das nascentes divinas, sempre corri límpida, livre. 

Sou eu que formo os oceanos, mares, rios, riachos, lagos. Ainda, para embelezar a natureza, alegrar a vida dos humanos, deixo-me cair em forma de cascatas e cachoeiras. Desde sempre, transformo terras estéreis em campos férteis, onde semeando, tudo faço brotar. Nas cidades dos humanos, deixo me levar por canos velhos e podres, que me impedem cumprir um dos meus mais valiosos atributos: saciar a sede dos homens. 

Esses, quando me possuem, não valorizam minha existência. Aí, se desesperam, amaldiçoam à mim e a si mesmos pelo mal, pelo desperdício que incorrigivelmente praticam, sem pensar no amanhã. Quando falto, não sou eu a culpada. Invariavelmente é pelo descaso, pelos desmatamentos que aniquilam minhas nascentes, colocando em risco a vida na terra. Entrego-me límpida aos homens ímpios, que me devolvem evacuada de suas entranhas, como se nunca mais precisassem de mim.

Contudo, aqui estou. Não há paradoxo. Sempre existi e sempre existirei, nas mesmas proporções em que apareci, porem marcada, contaminada pelas mazelas humanas. Para finalizar, apenas me pergunto: “Será que se o Planeta Terra chamasse Água, cuidariam melhor de mim?” 

O autor é presidente Executivo da ONG Mãe Natureza – Barra Bonita

 

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