30 anos do Movimento de Defesa do Rio Tietê

Jornal ET - 20/05/2011

 

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No início da década de 80 iniciava-se, meio que por acaso, as atividade da atual ONG Mãe Natureza. O presidente da organização Hélio Palmesan relembra esses acontecimentos, relata sua trajetória e, emocionado, garante: "faria tudo outra vez"

Foi através desse abaixo-assinado, em uma atitude impulsiva, que se deu início ao Movimento de Defesa do Tietê, há 30 anos.

Hélio Palmesan, presidente da ONG Mãe Natureza, movido por uma paixão, vestiu a camisa em defesa ao meio ambiente e ao lendário Rio Tietê

Em 18 de Maio de 1981, um grave acidente ocorrido pelo vazamento de "produtos químicos" no Rio Tietê no município de Barra Bonita, provocou a morte instantânea de centenas de toneladas de peixes, um lamentável acontecimento até então nunca antes registrado.
Hélio Palmesan relata que naquela manhã a população presenciou algo que jamais sonhariam poder ocorrer no Tietê. De margem à margem, de Barra Bonita até a barragem de Bariri (68 Km) o rio teve sua lamina d'água tomada pelo cintilar prateado das escamas dos peixes, de todas as espécies, que sucumbiram e vieram à tona, produzindo uma imagem estarrecedora que dificilmente será esquecida.
Devido à gravidade e a proporção do acontecimento, logo ficou evidente que nada mais poderia ser feito de concreto que pudesse reverter o ocorrido. Num impulso, querendo de qualquer forma entender o porquê de tamanha tragédia, em algumas folhas de papel o episodio foi datado e relatado. Sem perceber, naquele momento, havia sido elaborado o primeiro abaixo-assinado da história em prol ao Rio Tietê.
Naquele dia ficou evidente o amor e respeito que a comunidade tem para com o rio. Colocando suas assinaturas no referido documento, mostravam claramente sua indignação e repúdio ao fato ocorrido.
"Assinavam voluntariamente, pois sabiam que naquele momento era a única ação conjunta que poderia chamar a atenção das autoridades para que fatos semelhantes não voltassem ocorrer", relembra.
Essa ação espontânea da comunidade foi fundamental, soou como um alerta e mostrava uma sociedade atenta e solidária às causas ambientais. "Uma sociedade que tem força e expressividade, tanto que nenhum fato semelhante voltou a ocorrer em nossa região", afirma Hélio.
Passados trinta anos, Hélio recorda o momento quando, ao anoitecer, a imprensa noticiou o fato em rede nacional e creditou os autores do abaixo-assinado como sendo o pessoal do Movimento de Defesa do Rio Tietê. "Na verdade, até aquele momento não havia movimento algum. As ações foram um impulso. Uma forma de registrar o ocorrido e mobilizar a sociedade para cobrar das autoridades providências", comenta e explica: "foi um ato despretensioso, mas que não deixou impunes os causadores. Sendo assim, responsabilizamos a própria imprensa pelo surgimento de tal movimento".
Naquele momento, seus autores não tinham ideia das responsabilidades que a imprensa os outorgava e que acabariam por assumir. Mal imaginavam as lutas que encontrariam pela frente, muito menos o que significavam os termos ecologia ou ambientalismo. Hoje praticamente um modismo.
Hélio Palmesam relata que "naquela época, início dos anos 80, ecologia e meio ambiente eram palavras desconhecidas. E nem no imaginário isso representaria no futuro, ou até onde se estenderia o então recém-nascido movimento". Hoje o significado desses termos é o principal foco de seu trabalho.
Hélio comenta que ao recordar esses trinta anos de atividades, vem à mente a verdadeira batalha que tem travado para alcançar e por em prática alguns de seus objetivos. "Isso produz em nós o sentimento de um soldado que emocionado chora e agradece pela missão a ele confiada e por cada pequena vitória conquistada", confessa Hélio ao contar que aprendeu que paciência, ousadia e perseverança são fundamentais para se alcançar êxito nesse assunto tão delicado que é o meio ambiente.

A trajetória de uma ONG, por seu representante e ambientalista

Trinta anos, dez mil 950 dias, de Domingo a Domingo. Durante esses anos, quantas e quantas reuniões, algumas proveitosas que renderam bons frutos, outras que não deram em nada, causando apenas cansaço e dissabores. Quantas viagens, quantos riscos corridos nas estradas e no ar, quantas palestras tomadas e proferidas, quantas noites a fio criando, sonhando, digitalizando projetos que graças aos conhecimentos adquiridos e a inspiração vinda dos "amigos de luz" se concretizaram, a ausência no lar, a distância dos familiares queridos e amigos, quantas horas de trabalho que poderiam ser de lazer, quantas férias canceladas por conta dos compromissos assumidos, quantos recursos próprio investidos para o fortalecimento da entidade, para que pudéssemos criar algo, novas ferramentas que induzissem e facilitassem o aprendizado das nossas crianças, dos nossos jovens e até dos adultos nas questões ambientais, quantas árvores plantadas e áreas recuperadas, quanta dificuldade para expormos nossas ideias, muitas vezes tidas como utópicas.
Uma coisa é certa e verdadeira, não há arrependimento algum, caso fosse necessário, faríamos tudo de novo, repetiríamos novamente todo caminho já, com muito sacrifício, percorrido pois acreditamos ser a vontade "divina", assim, não temos o controle nas mãos, foge do nosso livre arbítrio fazendo-nos acreditar que, talvez, cada um de nós, tenha nascido predestinado.
Podemos afirmar que valeu todo esforço empregado e que continuaremos comprometidos como sempre estivemos, vendo, mesmo que devagar o entendimento aflorar. Continuaremos pressionando, cobrando, participando, contribuindo, acompanhando os investimentos, as obras, e certamente, pouco a pouco, um dia, num futuro, teremos nossos rios recuperados, saudáveis e belos, um meio ambiente que exprima nossa cultura e bom senso. Continuaremos participando ativamente na formulação e adequação das políticas públicas, dos Comitês de Bacias. Nunca iremos nos desencorajar, nunca perderemos a esperança, mesmos diante de tantas adversidades, mesmo diante de tantas correntes contrárias, da degradação moral e ambiental, engajamo-nos de corpo e alma na missão de auxiliar e promover um ambiente saudável e sustentável para nós, para as próximas gerações e para todas as espécies que dele dependem.
Continuaremos a oferecer nossa parcela de contribuição, mesmo que humilde; continuaremos firmes e convictos, agindo com total transparência, atributo que nos possibilitou firmar expressivas parcerias no âmbito empresarial e governamental, repartiremos sempre com outras instituições similares a colheita dos frutos. Referenciaremos sempre os órgãos de imprensa como verdadeiros amigos da natureza aos quais somos e seremos eternamente gratos pelos valiosos espaços cedidos a nossa organização, sem o qual, jamais alcançaríamos o êxito nas nossas campanhas, projetos e ações. Neste momento, fazemos questão de compartilhar com todas nossas conquistas, celebrando juntos os 30 anos do movimento que antecedeu e firmou a ONG Mãe Natureza como umas das mais conhecidas, respeitadas e atuantes das Organizações Não Governamentais do país.

Principais projetos da ONG Mãe Natureza:

Unida
de Móvel de Pesquisa, Monitoramento e Educação Ambiental
Criação da Unidade Móvel de pesquisa, Monitoramento e Educação Ambiental para educação ambiental itinerante dotado de equipamentos básicos para análise e monitoramento, material para exposição itinerante, equipamento audiovisual, biblioteca, videoteca, equipamentos de fotônica, coletânea de espécimes da ictiofauna e fauna regional. Montado para interagir nas bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, tendo como prioridade, capacitar, levar conhecimento e informação sobre nossos recursos hídricos, uso racional da água, e lições de conservacionismo a toda rede pública estadual

Projeto Educando Sobre as Águas
Programa de educação ambiental itinerante direcionado a alunos e professores da rede pública e particular do ensino fundamental. Utiliza como sala de aula uma "Unidade Móvel" (Ônibus) dotado com equipamentos didáticos lúdicos que permitem de forma diferenciada e dinâmica facilitar o entendimento e a conscientização das crianças, jovens e adultos em relação ao uso racional da água para uma gestão sustentável dos recursos hídricos.

Projeto Navegando e descobrindo o Rio Tietê
Projeto de Capacitação de Professores da rede pública de ensino realizado em parceria com a Capitania Fluvial Tietê-Paraná (Marinha do Brasil). Esse curso aborda, os aspectos quantitativos e qualitativos dos diversos usos da água.

Projeto Olhos D'Água
Diagnóstico agroambiental para o gerenciamento e a recuperação das principais nascentes de água no município de Barra Bonita e em outros dentro do Estado de São Paulo.

Projeto Trilha dos Sentidos
Educação Ambiental através dos sentidos corporais dentro de reservas florestais e parques.

Projeto Memorial do Rio Tietê
Inaugurado no dia 08 de Junho de 2000. Encontra-se instalado na Avenida Pedro Ometto 425, piso superior do Barra Bonita Shopping. Espaço multicultural dotado com rico acervo bibliográfico e imagens contendo informações sobre meio ambiente, fauna, flora, recursos hídricos, bacias hidrográficas, esculturas, maquetes, equipamentos e pôsteres, em especial sobre o Rio Tietê. Também é utilizado como auditório para palestras e apresentações audiovisuais.
Projeto Árvores Submersas – Extração e reaproveitamento de árvores que ficaram submersas nos reservatórios das hidrelétricas dentro do território nacional como forma de "poupar" as reservas florestais
Projeto Observando e Tietê – Educação Ambiental com alunos da rede pública de ensino, utilizando o monitoramento da qualidade da água (por percepção) como ferramenta ao aprendizado. Projeto desenvolvido em parceria com a Rede das Águas – Fundação SOS Mata atlântica
Projeto Navegando, Conhecendo e Aprendendo
Iniciado em 2000, é um projeto de educação presencial realizado a bordo das embarcações que servem como "sala de aula flutuante" onde são tratados temas como: ecologia, hidrologia, recursos hídricos, geografia, história, fauna, flora, cadeia alimentar, ecossistemas aquáticos (algas e planctos) uso múltiplos das águas entre outros. Contempla alunos das escolas públicas e particulares do estado de São Paulo e outros estados, recebendo aproximadamente "trinta mil" alunos por ano.

Projeto Cine Tietê – Documentário para Educação
Ambiental
Síntese do documentário - Lendas do Tietê tem por objetivo resgatar, divulgar e imortalizar através de imagens, as lendas que enriqueceram o folclore, a mistificação e a crença de seus habitantes ribeirinhos. Apresentadas em prosas e cantorias, recordam uma linguagem típica que culturalmente contribui na apresentação e preservação da história do lendário Tietê. Nas imagens desse documentário, uma viagem desde a nascente até a foz, percorrendo seus 1.100 km de extensão.

Projeto Planeta Água – Documentário para Educação Ambiental, realizado em parcerias com a BBC – Londres, CEPOF – Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica da USP – São Carlos e distribuídos às escolas da rede pública de ensino.
Projeto Sensibilização Sobre o Uso Racional da Água – Vídeos institucionais em comemoração ao "Dia Mundial da Água" (22 de Março), "Dia Mundial do Meio Ambiente" (05 de Junho) e "Dia do Rio Tietê" (22 de Setembro) produzidos e parcerias como as produtoras "SP Centro – Bauru, TVC – Jaú, Som de Vera Crus – RJ" e divulgados pela Rede TV TEM de Televisão, EP TV, TVs Universitárias e Emissoras de Radio (AM e FM), atingindo região com aproximadamente 15.000.000 de habitantes.